Uma outra (e melhor?) versão de “Kokoro”


Há alguns meses atrás, escrevi sobre um certo livro japonês e como seu enredo, apesar de emocionante e etc., não ter me conquistado nada. Leitura interessante, sem dúvida, só que não foi tão incrível como achei que seria. Deve ter sido mesmo culpa das altas expectativas. De qualquer jeito, digo que a adaptação para o anime “Aoi bungaku” é bem mais legal.

Essa série reconta, em 12 episódios, seis clássicos japoneses; “Kokoro” corresponde aos de números 7 e 8, e traz um ritmo muito bom ao cortar mais da metade da história do original e focar somente no trauma de juventude de certo personagem, o ponto alto do livro. O protagonista foi inteiramente cortado e, sinceramente, não fez falta nenhuma.

O que eu mais gostei foi que tudo é contado duas vezes: num episódio vemos como tudo se desenrola na cabeça do professor, e no outro, pela visão de K. Se no primeiro a garota se veste de azul e a estação do ano é o verão, o segundo a mostra com um kimono vermelho e chama-se “Inverno”. É tudo tão sutil e poético que nem dá para saber precisamente se algumas coisas aconteceram de verdade. Menos ainda como outras se desenrolaram de fato.

Diálogos são trocados de lugar, ou cortados, às vezes incluídos. Se uma vez foi grosseiro, na próxima será calma, e vice-versa. Para um, o outro é o malvado da história. A garota era mesmo tão atirada, ou foi só exagero da cabeça de um iniciante no amor? E o professor fez certo em viver com o peso daquilo para sempre? A culpa no final não foi por causa do impulso de um homem imaturo?

Porque para mim foi. O que K fez foi não só idiota, como egoísta. Pelo menos seguindo o ponto de vista dele próprio. Essa escolha condenou a sua amada para uma vida chata e presa, exatamente como ela temia – quero dizer, como ele disse que a garota não queria.  Não só isso, como também levou o melhor amigo a carregar uma culpa dolorosa sem motivo nenhum. Ou melhor, pelo motivo errado.

Mas isso também é só o que eu acho. O brilhante dessa versão foi dar margem a tantas interpretações. O livro é recomendado, mas acho que esses dois episódios valem bem mais à pena. Digo isso hoje. Quem sabe, seria interessante se eu reler e assistir de novo daqui a alguns muitos anos, quando tiver mais experiência nesse ramo complexo do amor.

Para quem quiser assistir, baixei aqui. Não assisti ao resto do anime, mas deve ser ótimo também.

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